Policiais jogam totó, ouvem Enya e leem para ficar calmos nos circuitos do Carnaval

17/02/2012 12:41

 

Quem acha que o treinamento dos 23 mil PMs que trabalham no Carnaval é no estilo Chuck Norris ou Steven Seagal não conhece o outro lado da polícia na folia



Foto: Marina Silva

PMs jogam totó para relaxar

Bruno Wendel e Anderson Sotero
mais@correio24horas.com.br

Quem acha que o treinamento dos 23 mil PMs que trabalham no Carnaval é no estilo Chuck Norris ou Steven Seagal não conhece o outro lado da polícia na folia.

Lutas marciais, manuseio de armas, violência, nada disso. Poucas horas antes de o Carnaval começar, a ordem ontem de manhã, na Vila Militar dos Dendezeiros, era jogar totó, relaxar com terapia corporal – com direito a música da cantora Enya –, futevôlei na praia de Piatã e musculação.

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“A intenção é que a tropa vá para o circuito mais relaxada, para poder ter uma melhor condição para o trabalho”, explicou o capitão Marivaldy Usêda, subchefe do Centro de Educação Física e Desportiva (CEFD) da Vila Militar.

Tudo isso porque se, por um lado, a ordem é relaxar pela manhã, por outro não restam alternativas a não ser se manter firme no resto do dia para controlar uma multidão nas ruas de Salvador.

“A gente tem que ter atenção redobrada, principalmente quando começa a anoitecer”, contou um PM que não quis se identificar, enquanto tentava retirar veículos da Avenida Oceânica, na Barra, para a passagem dos trios.

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“Estou tentando limpar a área para o trio. A gente faz uma varredura da via. É um trabalho mais leve mas, depois que começa mesmo, o trabalho é pesado”, completou o PM. A atenção, segundo os PMs, tem que ser redobrada quando os desfiles começam.

Relax
Pela manhã, na Vila Militar, as salas de aula foram transformadas em alojamentos para receber os 1.200 policiais do interior. As tropas são das companhias especializadas: Cacaueira, Caatinga, Litoral Norte, Cerrado, Sudoeste e Gerais, Mata Atlântica, Semiárido e Polo Industrial.

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Todas essas unidades são conhecidas pelo treinamento rígido. Porém, o que se via no quartel ontem era um ambiente descontraído. “Capitão, nem aqui consigo lhe vencer”, disse um sargento ao colega de patente maior durante uma partida de totó. Em outra mesa, alguns jogavam sinuca.

Enquanto isso, pelos corredores do alojamento, um policial tentava se concentrar numa leitura diante de algazarra feita pelos colegas. “Enquanto tem uma turma que prefere ir para a praia, tomar uma cervejinha, um ou outro opta por ficar mais reservado”, contou o capitão Usêda.

Para os policiais dos pelotões do interior que não conhecem a cidade é oferecido um passeio turístico. E para os mais antenados ou com saudade da família, há acesso à internet.

Música 
Depois que um vídeo foi divulgado no ano passado mostrando PMs dançando Rebolation, o estilo musical mudou. É Carnaval, mas a música é o oposto a agitação.

Ivete, Chiclete, Psirico...? Nada disso. Apesar da bandana à la Bell Marques na cabeça, a tropa ouve o som new age da cantora Enya.

“A proposta é o relaxamento”, explicou uma das terapeutas da Vila. Ao som da trilha sonora, os policiais fazem 20 a 30 minutos de movimentos corporais lentos “para equilibrar o corpo e a alma”.

Relaxadas, as tropas embarcam já perto do meio-dia rumo à folia. Ou melhor, ao trabalho. Os pelotões seguem para os dois Postos de Reunião da Tropa (PRT), instalados no estacionamento São Raimundo, no Politema, e no Instituto Pestalozzi da Bahia, em Ondina. Antes de ir pra rua, ainda podem acompanhar apresentações do Grupo de Teatro da PM, formado por 22 policiais.

Apesar de todo o relaxamento, os PMs concordam que, na hora da folia, não dá para desviar um minuto da atenção. “De manhã, a gente tem tudo para relaxar, mas na hora que o Carnaval começa tem que estar concentrado. Não dá para vacilar”, destacou um PM em anonimato.